DMT - Entre a Vida e a Morte



Retirado gentilmente do site Plantando Consciência: http://plantandoconsciencia.org/novoblog/2015/06/15/dmt-vida-morte/

Por Eduardo Schenberg

De todos os psicodélicos, a DMT é provavelmente a mais intrigante. Presente em centenas de espécies vivas como parte natural de seu metabolismo, faz parte também do metabolismo humano. Mas o que esta DMT endógena faz, porque evoluímos capazes de sintetizar e utilizar DMT permanece completamente misterioso e desconhecido para a ciência.
Em busca de mais conhecimento sobre este mistério, os cientistas Húngaros Ede Frecska e Áttila Szabó elaboraram uma teoria elegante e promissora. A primeira peça foi encontrada ao estudar a enzima (proteína que interage no metabolismo de outras moléculas) responsável pela formação da DMT em nossos corpos, a INMT. Ela foi encontrada em pulmão de coelhos em 1961 por Julius Axelrod, que em 1970 ganharia o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia por seus estudos sobre a neurotransmissão. Se é nos pulmões que encontra-se a maior quantidade de INMT em todo o corpo, a segunda peça do quebra cabeças são os pulmões (ao invés da glândula pineal, como proposto por outros cientistas como Rick Strassman).Os pulmões, além de conter grande quantidade da enzima INMT, contém uma proteína qua a inibe. Ou seja, estão prontos para sintetizar DMT, mas o gatilho não pode ser puxado. A não ser que esta inibição seja de alguma forma removida em algum momento. E se for removida, a síntese de DMT seria rápida e intensa. A terceira peça fundamental da teoria é o fato de que o sangue contém enzimas que podem metabolizar compostos parecidos com a DMT (“quebrá-los” em moléculas menores sem as mesmas propriedades fisiológicas). Entretanto, a enzima que faz isso, chamada monoamino-oxidase (MAO) existe em dois tipos, sendo que a forma presente no sangue não metaboliza a DMT. Ou seja, ela pode viajar intacta pelas artérias percorrendo todo o trajeto desde os pulmões até o cérebro (e para todo o corpo também, mas primeiramente ao cérebro, dada a anatomia das chamadas pequena e grande circulação). Assim, os pulmões são um grande reservatório secreto de DMT. Possuem todas as capacidades necessárias para rapidamente sintetizar DMT em grandes quantidades e liberá-la na corrente sanguínea, potencialmente inundando o cérebro com quantidades consideráveis de DMT em poucos segundos se, e apenas se, a inibição da INMT for cancelada.  Mas ainda restam mais peças para completar a teoria. Pois o cérebro é um órgão delicado e muito bem protegido. Existe uma espécie de filtro (a barreira hematoencefálica) que barra a penetração de uma infinidade de substâncias, protegendo o delicado sistema nervoso de visitantes indesejados. Mas há algumas coisas que passam esta barreira lentamente (como é o caso de drogas psicoativas, alguns nutirentes e muitas toxinas também). E há também alguns raros casos em que o corpo investe energia para que certas moléculas entrem rapidamente no cérebro, como por exemplo a glicose, fonte fundamental de energia para as células cerebrais. Espantosamente, foi demonstrado recentemente, em uma série de estudos fascinantes, que o corpo investe energia para transportar DMT para dentro do cérebro.

Aqui vale a pausa pra respirar fundo. A importância deste fator é imensa. O corpo só investe energia em transportar para o cérebro aquilo que é absolutamente essencial. Se o corpo investe energia para levar DMT ao cérebro, ela só pode ser preciosa, muito preciosa.

E tem mais. A quinta e última peça da elegante teoria Húngara é que além de ter passaporte VIP para o cérebro, a DMT também é preciosa para os neurônios, que investem mais energia para internalizá-la. Dentro das células, a DMT pode se ligar em um receptor chamado Sigma-1, que fica localizado próximo das mitocôndrias, que são o pulmão celular, a central enrgética e respiratória de todas as células (este receptor e suas relações com as mitocôndrias também são chave paraminha própria teoria sobre ayahuasca no tratamento do câncer).
Ou seja, segundo a teoria de Ede e Áttila, a DMT é uma mensagem química dos órgãos pulmonares (os pulmões) para as organelas pulmonares (as mitocôndrias). Uma espécie de elo fractal entre a respiração macro e micro. Quando então que essa mensagem seria entregue? Por qual razão especial deveria o corpo investir energia em liberar DMT e por qual razão especial o cérebro teria evoluído com estes sofisticados mecanismos para captar e utilizar DMT?
Dada a literatura já bem conhecida sobre DMT, experiências espirituais, experiências psicodélicas e viagens de quase-morte e experiências fora do corpo, os cientistas Húngaros, seguindo os passos do também Húngaro Stephen Szára, pioneiro em descobrir a psicoatividade da DMT nos anos 50, e os passos de Rick Strassman, pioneiro no estudo da DMT e fenômenos espirituais, lançaram a hipótese de que o papel fundamental da DMT é resgatar o cérebro da hipóxia na hora da morte.
Quando entramos em morte clínica (um processo de cerca de 5 minutos) em que as funções do coração e do corpo entram em colapso, o cérebro entra num estado de hipóxia: falta de oxigênio. E as células cerebrais são muito pouco resistentes a este estado, ficam enfermas e morrem rapidamente. Um mecanismo de sobrevivência e proteção cerebral seria então enviar DMT para as mitocôndrias para auxiliá-las em sua função na diminuição do aporte de oxigênio que ocorre durante o processo de morte clínica. E seria a própria falência das funções centrais, como os batimentos cardíacos, o sinal para liberar a produção de DMT nos pulmões.
Ou seja, com o início do processo de morte clínica, a inibição da INMT pulmonar seria cancelada, os pulmões sintetizariam, em frações de segundos, enormes quantidades de DMT, que em mais algumas frações de segundos chegaria para resgatar as células neurais da hipóxia, fornecendo chance de sobrevivência para o organismo. Um elegante e sofisticado mecanismo de sobrevivência!
Para começar a investigar a questão experimentalmente, os Húngaros lançaram uma campanha de arrecadação coletiva na internet para juntar 30 mil dólares para testar os efeitos da DMT em neurônios cultivados em laboratório, com esperanças de no futuro moverem-se em direção a testes com seres humanos em UTIs e sistemas de resgate e emergência em acidentes.
Não apenas uma pérola da ciência psicodélica, mas talvez um grande avanço na medicina intensiva que pode vir a salvar milhões de vidas (e almas) em um futuro próximo.

Colabore, participe, doe!



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